Trabalhadores da Casa da Música sindicalizados no CENA-STe

A 12 de março de 2020, a Casa da Música (CdM) anunciava o cancelamento de concertos até ao dia 3 de abril. Por essa altura, um grupo de trabalhadores da instituição “não aceitou que os trabalhadores a recibo verde fossem descartados de um momento para o outro, com trabalhos cancelados e não pagos”, como os próprios descreveram (1).
Face às situações de grande dificuldade vividas por estes trabalhadores, muitos deles com vários anos de serviço, realizou-se um abaixo-assinado que contou com a assinatura de cerca de 100 trabalhadores. Nesse texto, os trabalhadores acusam a direção da “má gestão que está a ser feita da crise” e apelam à responsabilidade social de “uma das instituições culturais mais financiadas pelo Estado” (2). Depois disso, foram requeridas audições parlamentares nas quais participaram, para além do presidente do conselho de administração, mais seis trabalhadores – um pertencente ao quadro e cinco a recibos verdes. Já enquanto decorria um processo de investigação à CdM pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), os trabalhadores anteriormente dispensados são agora convocados para a reabertura da CdM a 1 de Junho, sem que antes se tivesse procedido à regularização dos pagamentos em atraso. Em entrevista à Lusa, um dos assistentes de sala explica que, segundo a nova proposta da CdM, estes trabalhadores passariam a laborar em moldes diferentes, em duas equipas e alternadamente, o que representaria uma perda de 75% de rendimento (3). Em reação, os trabalhadores organizam, precisamente para a data de reabertura, uma ação de protesto em frente à instituição, que contou ainda com a presença de vários colegas de Serralves. Todavia, e no que classificaram de gesto de represália, a CdM alegadamente dispensou de trabalhos já alocados para o mês de Junho trabalhadores que teriam participado na manifestação (4). Mais tarde, a 10 de Junho, a Administração da CdM é chamada ao Parlamento e nega a existência de falsos recibos verdes na instituição. Aí, os trabalhadores também tiveram oportunidade de relatar o modo como cumpriam horários consecutivos de 16 horas, com períodos de descanso inferiores a 8 horas (5).
A 24 de junho, a inspetora-geral da Autoridade para as Condições do Trabalho admitiu, numa audição no parlamento, haver indícios de falsos recibos verdes. Em reação, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, afirmou na comissão parlamentar de Cultura e Comunicação que o Governo iria agir caso se confirmasse a existência de “falsos recibos verdes”, sublinhando que “o Estado não financia precariedade” (6).
Mais tarde, a partir de Setembro de 2021, o colectivo reorganizou-se e, em grande parte, associou-se ao sindicato CENA-STE. Neste âmbito, “continuou a exigir um tratamento digno para os trabalhadores a recibo verde, defendendo a formalização de contratos de trabalho e as reivindicações gerais dos trabalhadores da Casa da Música” (7). Do processo de inspeção levado a cabo pela ACT resultou a detecção de 36 falsos recibos verdes nas áreas dos técnicos, assistentes de sala e dos guias, desencadeando, consequentemente, várias ações em tribunal interpostas pelo Ministério Público. Seguiram-se vários meses de luta nos quais os trabalhadores com vínculos precários procuram provar em tribunal as condições laborais em que se encontravam. Concomitantemente, a luta assumia visibilidade por outras vias. Para além das manifestações, abaixo-assinados e forte presença na comunicação social, os trabalhadores da Casa da Música contaram com o apoio de vários artistas, que se juntaram à sua causa, e com eles colaboraram, por exemplo, na produção de um videoclipe, Abraço Assinado, bem como na realização de projeções no edifício da Casa da Música a denunciar as situações de precariedade, intimidação e represálias sofridas pelos trabalhadores.
Num processo que já leva mais de dois anos, pequenos gestos de resistência contribuíram para dar voz a esta luta. De uma página anónima nas redes sociais chamada Fulano B na qual divulgam a sua atividade, às projeções de Miguel Januário, por altura do Natal, com referência à dispensa de um dos principais rostos da luta, Hugo Veludo, ou ainda ao cabaz de natal entregue ao conselho de administração, no formato do edifício, com uma cópia do livro dos elogios feitos aos trabalhadores pelos visitantes da instituição, foram várias as imagens e palavras de ordem, também elas um gesto artístico, que deram visibilidade às dificuldades vividas por estes trabalhadores. Ainda assim, e depois de a ACT ter detectado dezenas de irregularidades nos vínculos laborais destes trabalhadores, e de a própria CdM ter afirmado estar disponível para regularizar possíveis situações de incumprimento, o facto é que, o Ministério Público não conseguiu dar como provada nenhuma destas situações em tribunal.

1) Informação disponibilizada pelo grupo em resposta a um inquérito realizado entre Fevereiro e Março de 2022. O abaixo-assinado foi-nos enviado pelo trabalhador e delegado sindical da Casa da Música, Fernando Pires de Lima.
2) O abaixo-assinado foi-nos enviado pelo trabalhador e delegado sindical da Casa da Música, Fernando Pires de Lima.

6) Fonte: TSF, https://www.tsf.pt/portugal/politica/casa-da-musica-ministra-diz-que-governo-agira-se-falsos-recibos-verdes-se-confirmarem-12371415.html, consultado a 13/07/22 Informação disponibilizada pelo grupo em resposta a um inquérito realizado entre Fevereiro e Março de 2022.

5) Informação disponibilizada pelo grupo em resposta a um inquérito realizado entre Fevereiro e Março de 2022.

Cronologia da atividade do grupo cívico:


2020

15 de Abril
Criação do grupo cívico Trabalhadores da Casa da Música
Cerca de 100 trabalhadores da Fundação Casa da Música relatam, num abaixo-assinado, a existência de várias dezenas de trabalhadores a recibos verdes que ficaram sem qualquer remuneração pelos trabalhos cancelados, na sequência das medidas de contingência tomadas no contexto da pandemia da covid-19.
Para saber mais sobre o grupo consultar: https://www.facebook.com/o.fulano.b
O abaixo-assinado pode ser lido abaixo:

“ABAIXO-ASSINADO

Exmo. Sr. Director

Geral da Fundação Casa da Música Nos últimos dias revelou-se muito preocupante a forma como estão a ser tratados os numerosos profissionais independentes que trabalham na Casa da Música. Falamos de formadores e músicos, técnicos e guias, assistentes de sala e porventura outros ainda que viram as suas vidas interrompidas neste período de encerramento da instituição. Falamos de profissionais que são, de facto, parte da equipa e colegas de trabalho. Consideramos alarmante a gestão que está a ser feita da actual crise e a situação em que são colocados estes profissionais, em especial os mais precários, os mais regulares, aqueles que mais dependem da instituição. A Casa da Música foi também construída com estes profissionais e não deveria renunciar à responsabilidade social que representa ser uma das instituições culturais mais financiadas pelo Estado. Mais consideramos que as medidas tomadas serão muito prejudiciais ao equilíbrio económico dos circuitos das artes e que a Casa da Música poderia e deveria ser um suporte desse mesmo equilíbrio. Se os músicos das formações base dos agrupamentos residentes com contratos de prestação de serviços ainda puderam ler umas linhas de reconhecimento e ser considerados merecedores de “uma atenção especial” (o pagamento de 75% dos valores contratados), já quase todos os outros parecem ser descartáveis e têm de aguentar sem remuneração. Consideramos indignas do estatuto da Casa da Música as soluções impostas a dezenas de prestadores de serviços:

1. A mais de uma dezena de FORMADORES do Serviço Educativo, o cancelamento das actividades trouxe a perda total dos rendimentos a elas associados. Foi proposto o adiantamento de valores próximos dos serviços cancelados, mas os formadores ficariam a dever essas quantias à Casa da Música, no formato de bolsa de horas.

2. A proposta feita a 20 TÉCNICOS da Casa da Música foi também um contrato de bolsa de horas que lhes permite receber agora os valores médios que têm recebido nos últimos meses, sendo que estas quantias se transformam em horas que os técnicos têm de trabalhar mais tarde, sem qualquer remuneração. Um empréstimo concedido a profissionais que, muitos deles, trabalham 8 e mais horas por dia na Casa da Música e assim perdem meses de vencimento. Técnicos menos regulares na Casa da Música nem a esta medida terão o direito de recorrer. O contrato apresentado aos técnicos é especialmente agressivo ao exigir-lhes que renunciem ao direito de reclamar em tribunal a qualificação deste contrato ou de contratos de prestação de serviços anteriores ou futuros como sendo contratos de trabalho.

3. Os cerca de 50 ASSISTENTES DE SALA e os GUIAS são colocados ainda em pior situação. Os compromissos cancelados levaram à perda total de um rendimento que para muitos é essencial. Sem outra alternativa, foram remetidos para os apoios da Segurança Social, para os quais apenas uma parte é elegível.

4. Os MÚSICOS EXTRA de alguns agrupamentos residentes (convidados que não pertencem às formações base), no que respeita aos projectos iniciados a partir de Abril, recebem zero, mesmo que já estivessem contratados.

5. Os MÚSICOS e as BANDAS programados para actuar no Café foram reagendados, mas o reagendamento não é a manutenção de um compromisso com o ecossistema artístico. A banda virá à Casa da Música noutra altura, ocupando o lugar de outra banda que já não virá, e pouco a pouco todo o sistema se ressente com a diminuição extrema de trabalho.

Sem notícia de redução, pelo menos para este ano, de subsídios estatais ou do mecenato, nem mesmo uma redução significativa dos alugueres de sala para promotores externos, não se compreende a violência destas medidas. As perdas da bilheteira e da área comercial estarão na ordem dos 140.000 € mensais, o que pode ser estimado a partir do Orçamento de 2020 da Casa da Música. Em vez de se retirar rendimentos a quem trabalha com vínculo precário, porque não usar o resultado operacional de 935.000 €, previsto pelo Orçamento de 2020, para colmatar estas perdas? Medidas deste género já serviram noutras alturas para cobrir os cortes orçamentais do Estado, bem mais volumosos.

Que importância têm, para a Administração e a Direcção, as pessoas que de facto fazem a Casa da Música todos os dias? É correcto deixar afundar quem lhe tem dado forma e sentido?

Apelamos a que se reverta estas medidas. Cumpra-se os compromissos e assuma-se a responsabilidade social da Fundação. Comunique-se mais e melhor, porque assim como nos juntámos para este abaixo-assinado, também nos juntamos para ajudar, à nossa medida, a resolver os problemas da nossa Casa. Aguardamos as decisões neste sentido, mas é nosso dever levar esta luta às últimas consequências, porque a situação é grave. A ausência de soluções justas e rápidas obriga- -nos a recorrer aos Fundadores, ao Estado, aos partidos políticos e à opinião pública.

Calar seria consentir. E seria insuportável.

Porto,

18 de Abril de 2020”

Fonte: enviado pelo trabalhador e delegado sindical da Casa da Música, Fernando Pires de Lima.

1 de Junho

Trabalhadores da Casa da Música organizam vigília silenciosa, com o apoio do sindicato CENA-STE, data que coincidiu com a reabertura da Casa da Música. Trabalhadores são em seguida dispensados de concertos como forma de represália. 

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Créditos da imagem: Jeremy Pernet
3 de Setembro
Criação de Fulano B - projecto de um colectivo de trabalhadores da Casa da Música com a participação de Educadores do Serviço Educativo Artes da Fundação de Serralves.
Ver página AQUI
4 de Setembro
Fulano B lança uma canção escrita e composta por Manuel Cruz, e com voz de Sara Yasmin, intitulada Abraço Assinado. O videoclipe foi rodado durante a vigília de 1 de Junho e exibe projeções da letra da canção no edifício da Casa da Música. O tema tem vídeo de André Gil Mata e projeções de Miguel Januário.
Ver vídeo AQUI
Letra da música pode ser lida abaixo:
“ABRAÇO ASSINADO

Merecemos claro ser precários, somos uma dívida da produção

Damo-nos tanto à matéria pois em nossa artéria o ouro não correu

Somos feios, tortos, ignorantes temos muita sorte por qualquer função

Estamos mesmo bem na vossa sombra já que as nossas sombras nem sei onde estão

Lutaremos pra nos resumirmos a ser mais um zero nessa transacção

Espero estar à altura dela e sumir no escuro quando o pano cai

O meu fato preto pendurado, orgulho descansado a sacudir-lhe o pó

Não sou digno de certos prazeres pois és tu a corda e eu sou só um nó

Que importam as ideias, na tua cena só sigo o guião

E encontro a magia

Que negra magia

Não, não, não

Não, não, não

O que eu faço qualquer um fazia, não devo à mestria o que hoje construir

O espectáculo sem a minha parte segue sem defeito ninguém vai notar

É trabalho desqualificado fico satisfeito só de conseguir

Mais as extraordinárias horas que eu passo ocupado e não gasto a dormir

Aceitando que tu é que és gente, rio de contente ao me estenderes a mão

Sou um código de cabimento, vejo-te e nem tento chegar tão além

Sei que somos lastro descartável, não condecorável, zeros na equação

Faz sozinho como tu bem gostas, sem fardos às costas, chefe de ninguém

Que importam as ideias, na tua cena só sigo o guião

De encontro à magia

Que negra magia

Não, não, não

Não, não, não…

Vai então sem mim.”

27 de Novembro

Trabalhadores da Casa da Música entregam petição ao Conselho de Fundadores da Casa da Música com mais de 2400 assinaturas exigindo justiça laboral nesta instituição.

A petição pode ser lida abaixo:

“Petição pela Justiça Laboral na Casa da Música

Exma. Sra. Ministra da Cultura
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal do Porto
Exmo. Sr. Presidente da Área Metropolitana do Porto
Exmo. Sr. Presidente do Conselho de Fundadores da Casa da Música e restantes Fundadores da Fundação Casa da Música

Como se sabe, a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) detectou 36 falsos recibos verdes na Fundação Casa da Música (CdM), apenas nas áreas dos técnicos, dos assistentes de sala e dos guias – as outras áreas não foram investigadas. O presidente do Conselho de Administração da Fundação Casa da Música tinha já afirmado, na Assembleia da República, que a Fundação iria regularizar todas as situações indicadas pela ACT. A Ministra da Cultura afirmou, também na Assembleia da República, que o Estado não financia precariedade. A regularização dos contratos de trabalho implica reconhecer que os trabalhadores estiveram numa situação de trabalho dissimulado desde a data de início da relação laboral. O que se espera da regularização dos contratos é o pagamento dos valores que foram suprimidos às remunerações e eram de facto devidos (salários, férias, subsídios de férias e de Natal, acerto dos valores pagos à Segurança Social, subsídios de refeição, etc.). – Não é admissível que a Fundação CdM, em tribunal, dê o dito por não dito e defenda que nenhum destes trabalhadores, afinal, tem direito a contrato de trabalho – mesmo que trabalhem a tempo inteiro na instituição, mesmo que ali trabalhem há 15 anos, mesmo que ocupem necessidades permanentes da CdM. – Não é admissível que os trabalhadores apenas sejam contratados mediante a assinatura de uma “declaração de quitação” em que abdicam de 90% dos retroactivos que lhes são devidos. – Não é admissível que os contratos impostos estipulem menos horas de trabalho semanal do que a média que contratos de trabalho, estes valores são-lhes devidos. – Não é admissível que a Fundação CdM deixe sem rendimentos muitos destes trabalhadores, aqueles que ainda têm resistência para lutar em tribunal, fazendo-se valer da sua posição de poder e da sua grande capacidade financeira (de origem maioritariamente estatal). Os cidadãos abaixo-assinados apelam aos Fundadores da Casa da Música, na pessoa do seu Presidente, e em especial àqueles que representam o Estado – Ministério da Cultura, Presidente da Câmara Municipal do Porto e Presidente da Área Metropolitana do Porto –, que demonstrem responsabilidade social e exijam o cumprimento das obrigações da Fundação perante os seus trabalhadores e o cumprimento da palavra dada na Assembleia da República. Entendemos que só há uma forma de o fazer: 1. Contratar de imediato todos os trabalhadores indicados pela ACT, pelo número de horas e valores correspondentes ao histórico da sua relação laboral com a Fundação CdM e pagando-lhes os retroactivos devidos, desde a data de início da relação laboral. 2. Corrigir os contratos já realizados garantindo os direitos mencionados no ponto 1. 3. Tirar daqui as conclusões devidas no que respeita ao modo como deve ser gerida uma Fundação financiada por dinheiro público. Está na hora de mostrar que uma Fundação financiada pelo Estado não pode ser uma casa de abusos laborais. O Estado não deve financiar precariedade. A Fundação Casa da Música, enquanto instituição de utilidade pública, deve ser um exemplo de justiça laboral e de boa gestão.”

Fonte: Petição Pública de 27/11/20, https://peticaopublica.com/?pi=PT103631, consultado a 03/06/22

2021

18 de Janeiro
Delegado Sindical dos Trabalhadores da Casa da Música, Fernando Pires de Lima, envia Carta Aberta aos diferentes órgãos da Câmara Municipal do Porto, assinalando que as declarações do representante do Município no Conselho de Administração da Casa da Música são “um atropelo à verdade dos factos”.
A carta aberta pode ser lida abaixo:
“ESCLARECIMENTO SOBRE A SITUAÇÃO DOS TRABALHADORES PRECÁRIOS DA CASA DA MÚSICA
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal do Porto
 Exmos. Srs. Vereadores da Câmara Municipal do Porto
 Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal do Porto
 Exmos. Srs. Deputados à Assembleia Municipal do Porto

 Na reunião da Assembleia Municipal do passado dia 14 de Dezembro, em resposta a uma pergunta que lhe foi colocada, o Presidente Rui Moreira pediu ao Deputado Luís Osório, também membro do Conselho de Administração da Fundação Casa da Música, que esclarecesse a Assembleia sobre o andamento do processo de contratação de trabalhadores que esta Fundação manteve na precariedade durante anos. E fê-lo manifestando a sua plena confiança no Dr. Luís Osório enquanto administrador nomeado pela Câmara Municipal e pela Área Metropolitana do Porto. As declarações feitas pelo Dr. Luís Osório perante a Assembleia Municipal são, em grande medida, um atropelo à verdade dos factos que eu, enquanto trabalhador na Fundação Casa da Música desde 2006 e actual delegado sindical, e conhecendo-os em pormenor, não posso deixar de denunciar. Notificada pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) para regularizar três dezenas e meia de contratos de trabalho dissimulados, a Fundação Casa da Música impôs condições contratuais que vários trabalhadores não aceitaram por considerarem que não respeitavam os vencimentos e os retroactivos cuja regularização se impunha. A respeito disto, o Dr. Luís Osório afirmou que os contratos propostos “têm de estar incluídos na lógica da Casa da Música” e que não vai “propor a técnicos contratos novos que não tenham nada a ver com os escalões (…) e com os ordenados que são praticados na Casa da Música”. Ora, nenhuma destas afirmações traduz a realidade das práticas da Fundação neste processo. Aos técnicos a falsos recibos verdes que a ACT identificou, a administração da Casa da Música propôs vencimentos inferiores aos “escalões” existentes. E uso aspas porque na Casa da Música não há propriamente escalões de vencimento claros. Existem, isso sim, três vencimentos diferentes atribuídos aos técnicos e um quarto valor, inferior, em que se mantêm apenas dois técnicos. Interessa aqui explicar porque existe este quarto valor, mais baixo: trata-se de dois técnicos que foram vítimas de uma avaliação irregular há dez anos que originou um tratamento diferenciado em relação aos colegas — o seu vencimento não foi actualizado no ano seguinte. Não lhes foi dada, desde então, outra oportunidade de igualar o vencimento dos colegas — simplesmente porque a Fundação nunca mais promoveu avaliações de desempenho. Portanto, existem três escalões de vencimento sem qualquer lógica conhecida e um quarto, inferior, que subsiste como castigo aplicado a dois profissionais por um ano alegadamente menos bom há uma década. Os dois técnicos de palco que não aceitaram o contrato tal como foi proposto pela Fundação trabalham com a Orquestra Sinfónica do Porto desde que esta ensaiava no Mosteiro de São Bento da Vitória, em 2005, antes de ser integrada na Casa da Música. São dos trabalhadores mais antigos da Casa da Música, mas a eles a administração propôs o vencimento mais baixo atribuído a técnicos: precisamente aquele que subsiste como castigo injusto aplicado a apenas outros dois profissionais da instituição. Será isto incluir os trabalhadores e os seus contratos na “lógica” da Casa da Música? Que lógica é esta? Estes não são “contratos novos”, mas sim contratos de trabalho que foram dissimulados durante mais de 15 anos pela Fundação Casa da Música. Logo, a administração da Fundação, nomeadamente o Dr. Luís Osório, precisa de entender que não está a contratar pessoas pela primeira vez e a apresentar-lhes as condições que lhe são mais convenientes, mas sim a regularizar uma situação ilegal (que, inclusivamente, já deu origem a coimas de vários milhares de euros que os próprios administradores terão de pagar à ACT). A regularização de uma situação de falsos recibos verdes implica, obviamente, o pagamento dos créditos que foram suprimidos durante anos aos trabalhadores — que nunca tiveram férias pagas, subsídios de férias ou de Natal, nem subsídios de almoço ou formações, que suportaram contribuições para a Segurança Social devidas pela entidade patronal. Mas este empregador não o compreende e nega-se a pagar os créditos laborais devidos, reduzindo-os a apenas 10% e ficando com o resto. Será esta a “lógica” da Casa da Música? De facto, oito técnicos aceitaram o contrato proposto e estão a trabalhar na Casa da Música. Mas esta informação precisa de ser completada com o resto da verdade. Ao contrário do que diz o Dr. Luís Osório, estes técnicos não foram enquadrados nas práticas salariais da instituição. Se quatro tiveram direito ao tal vencimento mais baixo atribuído a técnicos, para outros quatro a Fundação teve o cuidado de criar uma nova categoria, até então inexistente, chamada “assistente de cena” — basta consultar os organigramas nos Relatórios de Actividades e Contas para perceber que nunca tal categoria existiu. Para quê tanta criatividade? Para lhes atribuir um vencimento mais baixo do que a todos os outros técnicos. Dizia o Dr. Luís Osório que não ia “propor a técnicos contratos novos que não tenham nada a ver com os escalões (…) e com os ordenados que são praticados na Casa da Música”. Na verdade, foi isso mesmo que fez: propôs contratos novos, em vez de regularizar aqueles que dissimulava, que não se enquadram nos escalões e nos ordenados praticados até então. Até foi criada uma profissão nova na Casa da Música com o único objectivo de pagar menos! É preciso dizer, também, qual é a moeda de troca das contratações de trabalhadores “falsos recibos verdes”, que soam a um compromisso de acabar com a precariedade laboral mas estão muito longe de o ser. A moeda de troca são os trabalhadores contratados a termo, a outra face ainda desconhecida da política de precariedade laboral da Casa da Música. Ainda na área dos técnicos, basta dizer que às contratações de um técnico de som e um técnico de luz a que se viu forçada, a Fundação fez corresponder o despedimento de outros dois técnicos que ocupavam as mesmas funções com contratos a termo. Despedimentos que só podem ser considerados ilegais, porque se tratava de contratos a termo para necessidades permanentes, com trabalhadores que integravam os quadros e o organigrama da instituição — depois de também eles terem sido falsos recibos verdes durante vários anos. Ou seja, a integração de falsos recibos verdes é feita com manifesta má-fé, porque se procura compensá-la com a eliminação de outros postos de trabalho — não renovando contratos a termo que, nos termos da lei, devem ser considerados efectivos. Ainda pior, recorrendo em simultâneo a outsourcing para as funções destes trabalhadores ilegalmente despedidos. É esta a “lógica” da Casa da Música? É este o sentido de responsabilidade da administração da Fundação? O Dr. Luís Osório, no entusiasmo da sua declaração, perdeu a noção da realidade ou a vontade de a descrever e diz que “é natural que pessoas que recebiam 3 ou 4 mil euros enquanto prestadores de serviços não vão agora receber 3 ou 4 mil euros como ordenado”. Isto não é verdade, são aliás números muito longe da verdade, e é custoso ouvir um membro do Conselho de Administração da Casa da Música a fazer uma afirmação destas. Vejamos o caso dos técnicos, que ganhavam a recibo verde 10 € brutos por hora: somando 40 horas por semana e 11 meses de remuneração por ano, mas com descontos para a Segurança Social superiores a um contrato de trabalho regular, subsídio de refeição inexistente e seguro de acidentes de trabalho pago pelo “prestador de serviços”, estamos a falar de remunerações que, pelas faltas de cumprimento dos deveres do empregador, apenas se podem comparar a um ordenado inferior a 1.200 € por mês com contrato de trabalho. Um valor ao qual ainda se deve descontar o IRS e a contribuição obrigatória para a Segurança Social. Bem longe dos 3 ou 4 mil euros que o Dr. Luís Osório afirmou que estes trabalhadores ganhavam! No entanto, estes trabalhadores da área técnica até ganhavam um pouco mais do que este valor: porque em vez de 170 h por mês faziam 200, 220, 260 h; porque em vez de 11 meses trabalhavam 12 meses por ano; porque lhes era atribuído serviço sem o tempo de descanso a que a lei obriga entre dias de trabalho, reduzido muitas vezes a apenas 6 ou 8 h por noite em vez das 11 h de intervalo mínimo impostas pelo Código do Trabalho. Nos melhores anos, chegaram aos 23.000 € anuais brutos — que, ajustando os valores tendo em conta os direitos não pagos pelo empregador, corresponderiam a um vencimento bruto, com contrato de trabalho, na ordem dos 1.400 € mensais. Mas só atingiam tais valores porque nesses “melhores anos” trabalhavam constantemente mais de 10 h por dia, muitas vezes 15 e 16 h num único dia, e praticamente não gozavam férias. (E se alguém concebe que o faziam por escolha própria, sugiro que lhes pergunte que consequências enfrentavam em caso de recusa deste género de condições.) Imagine-se quão desumanos teriam de ser os horários de trabalho para chegarem aos valores anunciados pelo Dr. Osório! Temos portanto de repor a verdade que falta às declarações do Dr. Luís Osório. Os dois técnicos não esperavam vencimentos de 3 ou 4 mil euros mensais nem nunca obtiveram tais rendimentos. Nem sequer o valor do recibo verde mensal — ignorando todos os acertos — se aproximava dessas quantias. O que esperavam era um vencimento mais próximo do que auferiam de facto a recibos verdes e do que é pago aos seus colegas com funções iguais e antiguidade comparável. Recusaram assinar o contrato que lhes foi apresentado porque não só lhes foi imposto bem menos do que o vencimento justo, como lhes foram negados 90% dos retroactivos que a Fundação lhes deve. No Tribunal do Trabalho, é bom que se saiba, a Fundação defende neste momento que os dois técnicos em causa, André Silva e José Vilela, com 15 anos de trabalho prestado na Casa da Música e que dele dependem totalmente, são verdadeiros recibos verdes… Se isto não é má-fé… O Dr. Luís Osório abordou também a situação dos assistentes de visitas guiadas, 11 “falsos recibos verdes” identificados pela ACT. E expandiu aí a sua imaginação um pouco mais. Disse que um dos guias “saiu dois dias depois” de iniciar o contrato, e que “o único objectivo que teve não foi um contrato de trabalho, foi receber as indemnizações que estavam previstas e os retroactivos”. Não é verdade e parece-me grave que se declare as intenções de alguém sem nunca lhas ter perguntado. Houve, isso sim, um guia que, assim que se iniciou o contrato e começaram a ser impostas medidas altamente lesivas para os trabalhadores sem qualquer vantagem para o serviço (o que apenas poderá ser interpretado como uma penalização pela ousadia de não se encolherem), não teve alternativa senão rescindir para poder cumprir outros compromissos profissionais e académicos. Vale a pena esclarecer a situação dos assistentes de visitas guiadas, extremamente preocupante e já alvo de uma participação à Autoridade para as Condições do Trabalho. Depois da notificação da ACT para a contratação dos assistentes de visitas guiadas que trabalhavam a tempo parcial e a falsos recibos verdes, a Fundação apresentou-lhes contratos com várias falhas: oferecendo horários mais reduzidos do que aqueles que antes eram praticados pelos mesmos trabalhadores; e não explicitando como organizaria esses horários no que respeita a dias de trabalho e ao período normal de trabalho diário, como obriga o Código do Trabalho (e como ditaria o mais básico bom senso perante trabalhadores que, obviamente, conciliam outras actividades profissionais com este emprego que os ocupa apenas 2, 4 ou 6 h por semana). A negociação foi nula: a Fundação ignorou todas as questões e contrapropostas. Pressionados pela falta de rendimentos, os trabalhadores viram-se obrigados a assinar os contratos tal como eles foram deficientemente concebidos. Após sete meses sem trabalho, iniciaram actividade em Novembro e desde então têm-se visto confrontados com uma organização de turnos que se opõe aos interesses e às preferências manifestados por cada um — algo que o Código do Trabalho impõe que seja respeitado, sempre que possível, e sabemos que é perfeitamente possível. Viram-se ainda confrontados com a proibição das trocas de turnos — algo inédito na Casa da Música, onde as trocas de turnos são praticadas desde sempre nas mais variadas funções, denotando assim uma diferença de tratamento injustificável. Tomando como exemplo apenas o caso do trabalhador que rescindiu contrato, bastará dizer que se tratava de um horário de 4 horas semanais e que o trabalhador preferia ser colocado ao fim-de-semana — sendo um dos poucos trabalhadores com preferência por estes dias. Ora, as chefias distribuíram as suas horas de serviço de forma isolada (1 h por dia) e aparentemente aleatória (qualquer dia da semana ou fim-de-semana, a qualquer hora do dia) — o mesmo tratamento que tem merecido a restante equipa. Diz o Dr. Luís Osório que não há nenhuma má-fé por parte da administração. Como classificar então a imposição de horários lesivos para os trabalhadores a tempo parcial, prejudicando as suas outras actividades profissionais e a sua vida pessoal ao arrepio da lei, sem qualquer vantagem para o serviço e havendo comprovadamente alternativas menos lesivas? Neste momento, com contratos de trabalho de 2, 4 e 6 h por semana, estes trabalhadores são obrigados a manter uma disponibilidade potencial de 70 horas por semana até conhecerem a distribuição de serviço com poucos dias de antecedência e sempre sujeita a alterações impostas unilateralmente, duas e três vezes por mês. Um atropelo claríssimo às imposições do Código do Trabalho no que respeita ao trabalho a tempo parcial. Mas o Dr. Luís Osório julga saber que “o único objectivo que teve” aquele assistente de visitas guiadas “não foi um contrato de trabalho, foi receber as indemnizações que estavam previstas e os retroactivos”. Ou seja, o grande objectivo deste trabalhador terá sido receber os 300 € que lhe pagaram (cerca de 10% do que lhe era devido após três anos e meio de dissimulação do contrato de trabalho a tempo parcial), valor que não chegou para pagar ao advogado que o representou nas negociações que a Fundação fingiu ter levado a cabo. Isto não faz qualquer sentido e não se compreende que intenção tem o Dr. Luís Osório em proferir tais afirmações perante a Assembleia Municipal. Sem prejuízo de o trabalhador ter todo o direito de assinar contrato e de o rescindir de seguida para poder receber créditos vencidos que são seus por direito próprio, o que o Dr. Luís Osório parece condenar, melhor seria que lhe tivesse perguntado pelas razões que o levaram a rescindir o contrato iniciado dois dias antes. Eu perguntei, eis a resposta: “Apresentei a minha carta de demissão expressando que não tinha disponibilidade para realizar as funções de acordo com os horários definidos por parte da Fundação Casa da Música depois de assinar o contrato. Assinei sob a garantia de conciliação da advogada da FCdM, e depois foram fazer o contrário do que disseram que seria. Tenho integridade para dizer não a quem não foi de palavra. Ganhei 0 € com todo o processo. Fi-lo para honrar a minha passagem pela Fundação Casa da Música, para exigir respeito pelo trabalho da nossa equipa, e para lutar pelo reconhecimento de condições de trabalho para quem se vê nessa situação.” Urge perguntar ao Sr. Presidente da Câmara, chegados a este ponto: em que se baseia a confiança que mantém no administrador que nomeou? Finalmente, o Dr. Luís Osório diz que 15 assistentes de sala não responderam à proposta da Fundação. Que resposta merece a proposta de contratos de 10 horas semanais por 159 € mensais que, também eles, nada garantem a respeito da organização de horários? Espera o Dr. Luís Osório ter ao seu total dispor 15 trabalhadores, pagando-lhes valores desta ordem? Lembro que os assistentes de sala são requisitados regularmente para trabalhos que tanto podem iniciar-se antes das 9h da manhã e terminar pela hora de almoço, como desenrolar-se durante a tarde, a noite, a madrugada, à semana e ao fim-de-semana. A troco de 159 € ou 318 € brutos por mês, teriam praticamente 24 horas dos seus dias ao dispor da Casa da Música até à fixação das escalas de trabalho para o mês seguinte. Além de não lhes oferecer mais do que o salário mínimo (com contratos a 50% ou 25%), a Fundação recusou também a estes trabalhadores o pagamento de 90% dos retroactivos devidos, reunindo estas condições abusivas numa proposta que apresentou como inegociável. Restou aos trabalhadores a confiança da decisão ao tribunal, esperando que este se revele isento e imponha o respeito pela lei. Lembrando mais uma vez as palavras do Dr. Luís Osório — “os contratos propostos têm de estar incluídos na lógica da Casa da Música” —, conseguirá o representante da Câmara Municipal do Porto na administração da Fundação encontrar uma “lógica” nas condições que propôs aos assistentes de sala que não seja a lógica da precariedade e da desconsideração por estes trabalhadores? Como é possível considerar-se dignos rendimentos na ordem do salário mínimo, e ao mesmo tempo não considerar chocantes os valores que se atribui ao outro extremo nesta instituição, mais de 10 vezes superiores? Muitos dos assistentes de sala tinham na Casa da Música a sua principal fonte de rendimento, alguns há vários anos. Depois de serem dispensados, a 12 de Março de 2020, nem sequer o trabalho agendado para esse mesmo dia lhes foi pago. Viram o seu rendimento reduzido a zero em Abril, Maio e Agosto, e muito reduzido nos meses restantes. O trabalho agendado para a segunda quinzena de Março não lhes foi pago até hoje, tendo sido discriminados em relação à maior parte dos trabalhadores regulares a recibo verde da instituição. Depois de o próprio Dr. Luís Osório, numa reunião que lhes concedeu em Junho, ter garantido que o Conselho de Administração iria decidir pelo menos esse pagamento, seis meses passaram e ainda aguardam uma comunicação. Muito estranho será que o Presidente Rui Moreira mantenha a confiança no administrador que nomeou, depois de este proferir declarações de tal gravidade na Assembleia Municipal. A Casa da Música precisa de outro caminho, e não é fechando os olhos que ele será encontrado. O Dr. Luís Osório afirma que não há nenhuma má-fé nem nenhuma pressão sobre os trabalhadores. Mas, na verdade, não vejo outra forma de classificar vários dos factos que aqui descrevo, tão reveladores de má-fé quanto a iniciativa que a Fundação Casa da Música teve a 1 de Junho passado e que tanto incomodou o senhor Presidente da Câmara do Porto e a opinião pública: a encomenda, pela Fundação, da filmagem dos trabalhadores que se manifestavam legal e pacificamente na praça do edifício. Como classificar uma administração que coloca um operador de câmara, durante horas, a recolher imagens dos seus próprios trabalhadores enquanto estes defendem a justiça, o tratamento digno e a responsabilidade social que deveria pautar as acções da instituição? Se dúvidas houver quanto a este serviço encomendado pela Fundação Casa da Música, registe-se que a própria empresa que o prestou, à Fundação, já o confirmou por escrito e a vários dos trabalhadores visados. Apesar disso, o Presidente do Conselho de Administração da Casa da Música garantiu ao Presidente da Câmara do Porto que não tinha havido essa filmagem (veja-se a acta da Reunião do Executivo Municipal de 8 de Junho). É possível manter a confiança numa administração presidida por alguém que fugiu à verdade negando peremptoriamente, ao Presidente da Câmara do Porto, algo que está provado que aconteceu e atinge tamanha gravidade? Espero, com esta carta, ter clarificado um conjunto de situações que, de todo, não foram apresentadas com a correcção merecida na reunião em causa da Assembleia Municipal. Lembro que foi a Assembleia Municipal do Porto que deu a ouvir à cidade, em Junho de 1998, a ideia pioneira de uma casa para a música no Porto, pela voz do então deputado Maestro José Luís Borges Coelho, permitindo que do sonho se fizesse caminho pela mão de Pedro Burmester. Seria inspirador que essa mesma Assembleia, para não dizer o Executivo e o Ministério da Cultura, olhasse novamente para a Casa da Música e fizesse por lhe devolver estas referências fundamentais não apenas da cultura, mas também da seriedade e do respeito pelas pessoas. Para que, de uma vez por todas, a Casa da Música trate com dignidade aqueles que deram tudo o que podiam ao projecto em que sempre acreditaram. Porto, 19 de Janeiro de 2021 Fernando Sangreman Proença Pires de Lima” 

Fonte: Post do Facebook 19/01/21, https://www.facebook.com/o.fulano.b, consultado a 03/06/22

26 de Novembro

Trabalhadores da Casa da Música filiados no sindicato do Cena-STE fazem greve, acusando a nova administração de não ter dado resposta a nenhuma das reivindicações que lhe foram apresentadas logo que tomou posse, nem de ter aceitado reunir com a direcção do sindicato.

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Fonte imagem: Trabalhadores da Casa da Música
22 de Dezembro

Rosto da luta dos trabalhadores da Casa da Música, Hugo Veludo, sofre represálias por parte da direção. Segundo o jornal Público, haveria ordens superiores para que não fosse distribuído trabalho a Hugo Veludo. O jornal também informa que a administração da Casa da Música não nega a intenção de prescindir do trabalho de Hugo Veludo, mas observa que se trata “de um acto de gestão interna em absoluto respeito pela lei”.

23 de Dezembro
Miguel Januário faz projeção no edifício da Casa da Música em apoio ao trabalhador Hugo Veludo.
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Fonte: Post do Facebook com imagem e projeção da autoria de Miguel Januário, https://www.facebook.com/o.fulano.b/photos/a.104191658095858/446135337234820/, consultado a 23/06/22
25 de Dezembro
Trabalhadores da Casa da Música entregam Cabaz de Natal à direção. Em post no Facebook na página Fulano B, que data de 25 de Dezembro de 2021, os autores transcrevem o postal que seguia com o cabaz.
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O conteúdo do postal pode ser lido abaixo:
"CABAZ DE NATAL 

Querido Conselho de Administração da Fundação Casa da Música, Ao longo de quase 17 anos, foram muitas as mensagens de agradecimento que recebemos pelo profissionalismo e pela excelência que temos demonstrado. O nosso espírito de equipa e a paixão pelo que fazemos têm sido largamente enaltecidos pelo público e pelos inúmeros profissionais que por aqui passaram. O mérito© dos trabalhadores é a pedra angular sobre a qual se construiu o projecto e a imagem positiva desta Casa. Terá o actual Conselho de Administração mérito© suficiente para recuperar o ideal da Casa da Música, correspondendo finalmente aos anseios dos trabalhadores? Sob a inspiração deste Cabaz de Natal repleto de elogios ao nosso trabalho, desejamos que se inicie um diálogo sério e real que conduza a salários e horários dignos, ao fim da precariedade e das discriminações, enfim, à prosperidade para todos. Com renovada esperança, Os trabalhadores da Casa da Música Bom Natal e Feliz 2022» --------------------------------- O Cabaz: - 1 logótipo Casa da Música 3D Ano 2022 (Amor) - 1 postal de Boas Festas - 17 páginas com mensagens de reconhecimento do mérito© dos trabalhadores 2006-2021 - 1 vela (30 dias) - 31 merci Finest Selection (trabalhadores num 31) - 7 Ferrero Rocher Gold Edition (para 7 administradores) Agradecimentos: Rafa, pela entrega. Brigada interna de minas e armadilhas, pela análise cuidada do cabaz antes da entrega no gabinete da Sra. Administradora Delegada. O factor mérito© é uma criação do Conselho de Administração da Fundação Casa da Música. Qualquer semelhança com um processo de avaliação de desempenho regular e transparente é pura coincidência.”

Fonte: Post no Facebook de 25/12/21, https://www.facebook.com/o.fulano.b, consultado a 03/05/22

2022

14 de Fevereiro

Fernando Pires de Lima, trabalhador da Casa da Música e delegado sindical, denuncia, em artigo no Público, a generalização do incumprimento das leis do trabalho por parte das instituições culturais portuguesas, dando como exemplo o caso flagrante dos assistentes de sala da Casa da Música.

11 de Abril

CENA-STE acusa a administração da Casa da Música de exercer represálias junto de trabalhadores sindicalizados e que aderem a greves.