A nossa metodologia tem um caráter coletivo, público, participativo e ativista. São, portanto, estes
os vetores da nossa experiência de trabalho:
COLETIVA: Comunicação permanente, constante partilha de diferentes perspetivas e gestão de conflitos.
PÚBLICA: De modo a tornar-se relevante para um leque alargado de pessoas, de preferência para
alcançar o maior número possível. Consideramos importante mostrar o processo de trabalho.
PARTICIPATIVA: Temos criado um ambiente de trabalho que acolhe a participação através do
estabelecimento de parcerias com outras instituições culturais e um outro centro de investigação.
ATIVISTA: Empenhadas numa crítica construtiva, exprimimos o nosso ponto de vista crítico, assumimos uma posição e ativamos o espaço público de um modo político.
Trabalhar coletivamente é, para nós, um modo de partilhar as nossas perspetivas, fazendo-o através
de múltiplas sessões de trabalho. Tal tem-nos permitido gerir conflitos e a não consensualidade própria da interação de grupo.
Decidimos que queríamos divulgar tanto os processos como os resultados finais, bem como chegar (disseminar o trabalho) ao maior número de pessoas possível. A divulgação da metodologia de pesquisa permite também expor o modo como a interação pública condiciona a nossa dinâmica interna de grupo e a possibilidade de alcançar resultados finais.
Para operacionalizar estas intenções, realizámos três períodos de residência de investigação, que estiveram também abertas ao público em geral. Estas incluíram convidados participantes (pessoas pertencentes aos coletivos/ estudos de caso), artistas convidados e que trabalham no mesmo domínio teórico/prático, assim como trabalhadores/residentes locais. A nossa ideia era promover a interação entre os grupos cívicos, e as pessoas presentes nestes momentos cruciais de apresentação
pública. Também criámos um sítio virtual público, uma página de Instagram e Facebook. Foi ainda produzido um Mpa-kit, num exercício de conexão entre as atividades dos diversos grupos cívicos, numa tentativa de colocar a descoberto as relações entre estes grupos e as instituições/ organizações, as quais, direta e indiretamente, condicionam os seus processos de trabalho e condições/direitos laborais.
Porquê participativa? Enquanto coletivo de investigadoras e de trabalho, procuramos uma observação do nosso objeto de estudo de forma a conseguir dar visibilidade e legibilidade às questões e problemas levantados pelos grupos e coletivos cívicos, mas procurando incluí-los sempre nesse exercício, através do diálogo, entrevistas, participação em momentos públicos, mesas-redondas. Desta forma, assumimos também um posicionamento horizontal em relação ao nosso objeto de estudo. Por outro lado, e numa abertura à sociedade civil, estabelecemos parcerias com duas instituições em Portugal: Chão de Oliva, em Sintra, e o Centro de Artes e Criatividade, em Torres Vedras, de modo a poder acomodar os públicos locais, mas também promover o aparecimento de novos públicos. Estabelecemos, igualmente, uma parceria com outro centro de investigação, o CRIA - Centro em Rede de Investigação em Antropologia.
Consideramos que este projeto contém uma componente ativista forte, porque para nós um dos aspetos fundamentais é a articulação entre o rigor teórico e científico e a sua intenção política. O que é que queremos dizer com isto? Enquanto investigadoras, as nossas decisões relativas à identificação e seleção de conteúdos e materiais estão dependentes das premissas previamente estabelecidas no projeto inicial, ou seja, daquilo que foi decidido por nós como objeto de estudo. Falamos aqui dos agentes culturais que se organizaram para contestar e reivindicar as suas condições de trabalho. Ao colocar a descoberto a(s) evidência(s) da luta, expondo os seus meios de combate, o nosso projeto funciona necessariamente como um veículo de expressão para estes grupos cívicos. As suas lutas são deste modo amparadas pela nossa pesquisa e pelos nossos parceiros. Assim, estar ao seu lado, ao lado das suas vozes, é também ativar a intenção crítica, teórica e prática da pesquisa, ligando todas as materialidades envolvidas na sua expressão pública.
Este nosso posicionamento crítico tem em conta os aspetos históricos, socioeconómicos e políticos que lhe são próprios e os quais serão posteriormente tratados num artigo científico a desenvolver.
Estas metodologias pretendem assim ativar a esfera política, através da partilha de perspetivas, escolhas e eventualmente modos de produção, os quais fazem parte do significado de ativação da luta pela justiça laboral.
Metodologia