O seed-project do Instituto de História da Arte (IHA-NOVA FCSH) “Práticas Artísticas Confinadas: Resistência e Coletivismo na pandemia COVID-19 em Portugal” manteve uma dimensão pública como princípio metodológico ao longo dos seis meses de trabalho desenvolvido. O programa de trabalhos foi perspectivado de modo a garantir a partilha dos processos científicos na criação de um espaço público, colaborativo e participativo.
A comunicação do projeto contou com uma forte presença nas redes sociais, que por sua vez estruturou uma plataforma de documentação e difusão dos passos mais significativos dos trabalhos em curso. A par desta cronologia pública, o projeto difundiu-se com as parcerias estratégicas do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), o Chão de Oliva - Centro de Difusão Cultural em Sintra e o Centro de Artes e Criatividade de Torres Vedras (CAC). Estas parcerias permitiram-nos descentralizar a produção de conhecimento científico do espaço exclusivo da universidade para zonas periféricas. Com este objetivo, estruturámos os momentos abertos ao público através das residências académicas que tiveram lugar no Chão de Oliva - Centro de Difusão Cultural em Sintra e no Centro de Artes e Criatividade de Torres Vedras (CAC). Chamámos a colaboração e a participação pública com debates, workshops, mesas-redondas, e com uma exposição documental final.
Assim, como modo de produção científica, a dimensão pública da investigação permitiu-nos alargar o alcance do estudo e partilhar conhecimento com públicos dentro e fora da academia, assim como explorar diferentes vias de acesso à ciência em Portugal. Procurámos uma investigação enquanto prática social, assente numa produção coletiva/colaborativa de conhecimento e com assento prioritário na difusão democrática do mesmo. A exposição pública e contínua de uma investigação crítica, colectiva, e consequentemente processual pretende responder a esta proposta fundacional do projeto.

1º Momento Cartográfico, Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian [5 de Fevereiro de 2022]

No primeiro momento cartográfico, realizado no jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, identificámos 25 grupos cívicos relacionados com o trabalho artístico e cultural, e que foram constituídos no período de março de 2020 a junho de 2022. Construímos um questionário com questões que nos permitissem perceber as características gerais dos grupos para então prosseguir para um aprofundamento dirigido. Desenvolvemos um debate interno com a discussão de leituras fundamentais sobre espaço público, ativismo e coletivismo.

2.º Momento Cartográfico, Lisboa [17 de Março de 2022]

No segundo momento cartográfico debatemos os resultados do questionário enviado que contou com a participação e solidariedade da maior parte dos coletivos focados. Com base nas respostas aos questionários que recebemos, estivemos a construir uma metodologia de levantamento e organização de material de arquivo (clipping, manifestos, abaixo-assinados, fotografias e vídeos, etc.). Após a caracterização dos coletivos, demos início à estrutura geral das entrevistas e debatemos os critérios para a escolha dos estudos de caso.

1.ª Residência de Investigação, Chão de Oliva - Centro de Difusão Cultural (CO) [4 a 8 de Abril de 2022]

A primeira residência de investigação foi realizada nas instalações do teatro Chão de Oliva - Centro de Difusão Cultural (CO) e desdobrou-se em três momentos distintos: estabilização dos resultados do questionário e partilha pública da investigação em curso com uma cartografia visual do trabalho desenvolvido ao longo da semana; entrevistas realizadas a representantes do Manifesto em Defesa da Cultura e do sindicato CENA-STE; conversa aberta ao público com a artista Alexandra do Carmo (PT) e o artista Joshua Schwebel (CA), em torno dos seus trabalhos e das condições de produção artística em articulação com a sociedade civil.

2.ª Residência de Investigação, Centro de Artes e Criatividade Torres Vedras (CAC) [4 a 6 de Maio de 2022]

A residência de investigação no Centro de Artes e Criatividade de Torres Vedras, foi dedicada à análise dos materiais de arquivo dos grupos cívicos que selecionámos enquanto estudos de caso, a saber, Ação Cooperativista; Arte Educadores de Serralves; Convergência Pela Cultura; Trabalhadores da Casa da Música. Após esta análise, preparámos as entrevistas individuais a decorrer no final do mês de Maio. Na mesma ocasião fizemos o desenho e o projeto do sítio online Práticas Confinadas com a bolseira do projeto Maria Vintém

Workshop Confined Artistic Practices: Resistance and Colectivism in COVID-19 Pandemic in Portugal, Universidade de Évora [23 de Maio de 2022]

No âmbito da Graduate Seminar 'Crafting the Past: Materials, Materialities, Materialisms', organizado pelo IHC/NOVA, oIN2Past Associated Laboratory, e o Department of History of Art at UCL realizámos um workshop sobre o projeto, onde foi feita a apresentação preliminar sobre os estudos de caso Ação Cooperativista; Arte Educadores de Serralves; Convergência Pela Cultura; Trabalhadores da Casa da Música, e sobre as metodologias de investigação enquanto prática social e/ou ativismo académico. Neste âmbito, foi ainda realizada a oficina sobre o processo de estruturação e seleção das materialidades da investigação: manifestos, comunicados, posters de protesto, vídeos de intervenção, cartazes de manifestações, etc. Noções práticas de cartografia como uma montagem crítica e metodologia de investigação artística. Demonstração do mapa-kit enquanto múltiplo da cartografia e investigação desenvolvida.

3.ª Residência de Investigação, Centro de Artes e Criatividade Torres Vedras (CAC) / Mesa Redonda e Exposição Documental [27, 28 e 29 de Junho de 2022]

A residência académica no CAC culminou com a exposição documental no dia 29 de Junho e com a mesa redonda “Resistência e Coletivismo na Cultura durante a Pandemia Covid-19” que contou com Andreia Coutinho, do grupo Arte e Educadores de Serralves, e Alexandre Belo Morais da Convergência pela Cultura. A exposição decorreu até dia 15 de Julho e constituiu-se pela documentação audiovisual e escrita que produzimos a partir de entrevistas, inquéritos, recolha de imagens, comunicados e manifestos dos colectivos do sector da cultura constituídos durante a pandemia COVID-19. Procurámos fazer coincidir os nossos processos e modos de produção de investigação coletiva com a documentação reunida e, com este fim, elaborar a montagem e materiais em foco com uma lógica processual, como um arquivo corrente. Interessou-nos alinhavar a auto-organização destes coletivos, as suas principais reivindicações, alianças e ações políticas, com uma eventual performatividade e visualidade artística. Onde acaba a luta política e começa a performance artística? Qual o ponto sensível de intersecção entre arte, política e sociedade? Quais os resultados colectivos da luta de cada grupo? Como nos organizamos em momentos de emergência? Como instruir o valor à força de trabalho artística e/ou cultural?